sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Estudo afirma que até os mais sofisticados leitores de notícias podem ser manipulados.

Jornal de NotíciasImage via Wikipedia

Estudo afirma que até os mais sofisticados leitores de notícias podem ser manipulados.

Por Melinda Burns, Miller-McCune.com
Novembro de 2009

Revelação do resultado de um estudo europeu mostra que notícias tendenciosas podem ter um feito "bomba relógio".

Não há ninguém mais cético sobre a mídia do que o europeu médio.

Somente 12 por cento dos europeus afirmam confiar na mídia, comparado com os 15 por cento dos norte-americanos, 29 por cento dos asiáticos do pacífico e 48 por cento dos africanos, a BBC descobriu.

Ainda assim uma nova pesquisa da London School of Economics and Political Science sugere que mesmo os mais endurecidos europeus podem sucumbir a manipulação da mídia e mudar sua visão política se eles forem bombardeados tempo suficiente com notícias tendenciosas.

Michael Bruter, um professor titular em Política Europeia na London School, alimentou com uma dieta constante de informativos desvirtuados sobre a Europa e a União Europeia - todos com boas notícias ou todos com más notícias - 1.200 cidadãos de seis países por dois anos.

Com o tempo, Bruter descobriu, e sem exceção, que os leitores subconscientemente adotaram o viés em graus variados e mudaram sua visão da união europeia e de si mesmos como europeus, alguns deles ao extremo. Surpreendentemente, eles não registraram qualquer mudança logo depois que os informativos pararam - não até seis meses completos depois, quando eles obviamente tiveram que baixar a guarda.

Bruter chama isso o efeito "bomba relógio" de notícias de um lado só. Seu estudo pinta um quadro duro de como o ceticismo, longe de inocular os cidadãos para resistir a persuasão política, meramente atrasa o impacto.

"Sabemos que uma crescente proporção de cidadãos desconfia da mídia e que alguns explicitamente afirmam descontar o viés das notícias que eles recebem," ele escreveu. "Contudo, mostramos que a despeito desta qualificada estratégia de leitura, o efeito das notícias ressoa ao longo do tempo.

Bruter não estudou a mídia americana, mas sua pesquisa levanta perguntas sobre os efeitos de longo prazo da exposição polarizada das notícias da televisão em redes como a Fox e MSNBC - que são a primeira e a segunda respectivamente nos índices de audiência de notícias a cabo. A administração Obama recentemente chamou o Canal Fox News de adversário político e não uma verdadeira organização de notícias.

O efeito "bomba relógio" desafia a precisão de se o ceticismo dos cidadãos dos dias modernos realmente os faz mais vulneráveis a fontes jornalísticas que eles desconfiam muito e se sentem imunes, diz Bruter.

Assim, cidadãos britânicos, os mais céticos de todos, devem estar alertas da inclinação anti-europeia da mídia deles, ainda o estudo sugere que eles podem, todavia, ser manipulados para se sentirem menos europeus do que os outros, Bruter disse.

A mídia, ele disse - e particularmente os tablóides - deveriam parar de ignorar acusações de viés com afirmações de que "seu público é maduro e sofisticado e pode entender o que eles dizem com uma pitada de sal."

"Por contraste, minhas descobertas sugerem que mesmo audiências sofisticadas são efetivamente suscetíveis a manipulação," ele disse. "Como tal, a grande lição para a mídia é que ela tem muita responsabilidade."

Bruter ficou intrigado com a questão da mídia e da identidade depois que os cidadãos da França e da Holanda derrotaram a proposta de constituição para a União Europeia em 2005. Este contratempo, ele disse, fez imperativo descobrir se a mídia está influenciando "porque alguns cidadãos se sentem mais europeus do que outros."

Bruter planejou uma experiência de dois anos na qual ele enviou bissemanalmente informativos distorcidos contendo notícias sobre a Europa e a União Europeia para até 200 cada no Reino Unido, França, Alemanha, Bélgica, Portugal e Suécia. Estes países representavam tanto os membros da União Europeia grandes como os pequenos, os ricos e os pobres, os pró-europeus e os "euro céticos."

Cada informativo de 4 páginas, compilados de jornais europeus diariamente e semanalmente, incluíam duas páginas de artigos exclusivamente sobre a Europa e a União Europeia, ou todos positivos ou todos negativos.

Assim, por exemplo, um grupo de participantes leria sobre como os chefes de estado europeus concordavam em lutar contra o tráfico de drogas, como a Airbus superou a Boeing como a fabricante de aviões número 1 do mundo, e o valor do euro subindo, enquanto o outro grupo leria sobre o valor do euro caindo, a Airbus perdendo uma grande encomenda da China para a Boeing, e os chefes de estado falhando em concordar em como combater o crime organizado do extinto bloco oriental.

Em adição, os informativos das "boas novas" continham três fotografias ou desenhos de símbolos pró-europeus tais como mapas da Europa e fotografias da bandeira da União Europeia (um círculo amarelo centrado em um fundo azul), enquanto os informativos das "más notícias" continham fotografias neutras de pessoas e paisagens.

Antes que o primeiro informativo fosse enviado, os participantes preencheram um questionário planejado para medir suas identidades cívicas, culturais e suas identidades europeias. Eles responderam tais questões (em diferentes idiomas) como, "Em geral, você é a favor ou contra os esforços que estão sendo feitos para unificar a Europa?" "Em geral, você se consideraria um cidadão da Europa?" "Você diria que se sente mais próximo de seus camaradas europeus do que, digamos, dos chineses, australianos ou das pessoas americanas?"

Também, foi pedido aos participantes para descreverem suas reações se eles vissem alguém queimando uma bandeira europeia, e a reação deles se eles vissem alguém queimando a bandeira de seu próprio país.

Eles receberam essencialmente o mesmo questionário mais duas vezes - logo depois que os informativos pararam e seis meses depois disso.

As descobertas mostraram que as noticias distorcidas não tinham virtualmente nenhum efeito em se os cidadãos se sentiam mais ou menos europeus em relação a União Europeia, diretamente depois que a experiência de dois anos terminou. Mas seis meses depois que o último informativo chegou, os resultados mostraram que eles foram afetados de maneira inequívoca.

A Exposição constante a símbolos da Europa e da União Europeia - bandeiras, mapas e cédulas de euro - funcionaram imediatamente para fazer as pessoas se sentirem mais europeias, o estudo mostrou. E seis meses depois da experiência, os participantes que foram regularmente expostos aos símbolos estavam cada vez mais conscientes deles na vida real. Com efeito, eles tinham sido "preparados" pelos informativos para notá-los.

Mas a “bomba relógio” das notícias distorcidas foi mais efetiva do que a exposição aos símbolos na manipulação dos membros do "amplamente cético público europeu," Bruter disse.

"Mostra que mesmo a propaganda mais "inacreditável" pode ter um efeito ao longo do tempo e que os boatos mais enganosos e sem base, por exemplo, podem moldar a opinião em algum grau, "Bruter disse.

Hoje, a União Europeia cresceu para 27 estados membros, dos seis originais que se engajaram em uma cooperação econômica mútua em 1957. O Tratado de Lisboa, um substituto para a Constituição Europeia que fracassou em 2005, está pronto para entrar em efeito este ano: 26 dos 27 países membros o ratificaram, incluindo a França e a Holanda. A República Tcheca é a última retardatária (a República Tcheca já disse que vai assinar o Tratado esse mês).

Mas apesar do que os governos fazem a questão do por que e como os cidadãos de diferentes países europeus começam a se sentir menos britânicos ou dinamarqueses ou portugueses, e mais um europeu de coração é ainda alguém muito receptivo. A mídia, Bruter disse, pode impedir ou encorajar esse sentimento ao longo do tempo.

"O efeito das notícias em última instância contribui e assim influencia a identidade europeia dos cidadãos com notável influência no longo prazo," ele disse.


"Bomba relógio? O efeito dinâmico das notícias e dos símbolos na identidade política dos cidadãos europeus," apareceu no início desse ano no Journal Comparative Political Studies.

Melinda Burns foi anteriormente escritora sênior do Santa Barbara News-Press, cobrindo imigração, planejamento urbano, ciência e meio ambiente.

Fonte: http://www.alternet.org/media/ 143831

Nota: E o que dizer de nós brasileiros que somos bombardeados com notícias tendenciosas todos os dias? Vemos nos meios de comunicação os governos fazendo propaganda e mostrando as cidades e o país como verdadeiros paraísos, mostrando obras que ainda nem saíram do papel e iludindo os desavisados com a maior cara de pau, e qual a nossa reação? Nenhuma. Pagamos impostos dignos de países europeus desenvolvidos e temos serviços públicos iguais aos dos países mais pobres. E qual a nossa atitude? Vamos as urnas e votamos nas mesmas pessoas. Porque já estamos condicionados, não reagimos mais, somos ovelhas prontas para o matadouro.


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